
Ouvia passos no corredor, mas sabia que nenhum deles eram os teus. Enquanto esperava, levantei-me e preparei um copo de whisky, dirigindo-me para a janela. Contemplei toda a cidade e nela vi um enorme jogo de luzes que cintilavam de um lado e de outro.
O meu coração começou a bater cada vez mais depressa, agora ouvia os teus passos, suaves e proporcionais, a aproximarem-se. Bateste à porta do quarto. Apressei-me a ir abri-la...
«Sabes que chegou a hora, não sabes?», foi tudo o que disseste.
«Só não percebi o porquê...», as lágrimas escorreram-me do rosto. Toda a minha dor e angústia estavam agora a fluir como rios...
Aproximaste-te de mim e beijaste-me. Agora também os teus olhos estavam húmidos.
«Prometes-me que ficas bem?».
A ridicularidade daquela pergunta fez-me sorrir ironicamente.
«Como é que eu posso ficar bem se estou pela última vez com a pessoa que mais amo nesta vida? Como é que posso ficar bem se tudo aquilo que eu tenho me está a ser arrancado assim? Desculpa mas não posso prometer-te isso...».
Viraste-me as costas e dirigiste-te para a porta.
«Vais-te mesmo embora?», a minha voz tremia de tanta incredulidade.
Paraste durante alguns segundos. Por momentos pensei que tinhas colocado em causa a opção de ficar.
De seguida continuaste o teu caminho, sem olhar uma única vez para trás.
No meu mundo, tinha-se abatido, instantaneamente uma escuridão profunda. Nunca mais voltaria a ser o mesmo...